domingo, 16 de dezembro de 2007

A luxúria do amor romântico

Quando perguntaram-me qual o meu pecado favorito eu fiquei em silêncio. Segundos depois, eu respondi sem constrangimentos: a luxúria. Passou mais uns instantes e acrescentei: a luxúria do amor romântico.
Os beijos de filme, as carícias, as brigas de ciúme, os apelidos intímos me excitavam. Eu tinha um tesão quase inconstrolável pelo amor romântico. E não era só a testosterona que corria pelo meu corpo. Queria dormir e acordar despido com o amor.
Sentia-me o personagem de um filme, ator de uma propaganda de Dia dos Namorados e um felizardo por viver as metáforas de romances famosos. O que mais poderia ter? Nada. Eu estava satisfeito.
Quando isso começou? Talvez tenha sido no verão de 1994. De lá para cá tive alguns encontros momentâneos com supostas almas gêmeas. Hoje, o trabalho e o tempo mostraram-me que essa busca pode ficar para depois. Sim, para mais tarde, depois que o sol escaldante de Foz do Iguaçu sair de cena.
Engraçado como necessitamos daquelas palavras mágicas “ Eu te amo” para vivermos mais felizes. Quando não ouvimos, somos oportunistas o suficiente para falarmos ela para alguém e assim, talvez ouvi-lá de volta, ou seja, escutá-la duas vezes.
É uma necessidade minha, sua, do seu namorado, da sua futura filha, da sua amiga e de tantos outros. Somos influenciados a agarrar nessa crença de “ viver um grande amor” para sermos bem sucedidos.
Hei, você ama alguém? Nunca foi chamado de amorzinho? Que vida você levou até agora. Somos viciados em amor. Você já pensou em parar de tragar o amor? Não dá, o alívio proporcionado desafia a razão e encobre suavemente a ansiedade do coração.
É claro, tem pessoas que merecem um “ eu te amo”, não por serem a alma gêmea, mas por terem o dom de alegrar ou serem verdadeiras contigo. Mas isso é assunto para outra hora.
Onde eu quero chegar? Na simples conclusão de que o amor é produto mais vendido no mundo. Eu mesmo comprei algumas vezes. Pena que não vem com garantia ou possbilidade de devolução.
Se fosse diferente, o destino estaria na lista do Procon e essa hora eu não estaria aqui falando sobre isso, mas provavelmente pudesse estar bem longe gastando minha fortuna conquistada nas ações de danos amorosos.
Desilusão com o amor? Não, não...apenas cautela e precaução, afinal, ainda não inventaram advogados especialistas nessa área.
O amor romântico possui todo um movimento para o consumo. Não acredita? Então, o que seriam as novelas sem os encontros amoros. E o casal meloso que é separado pela amiga, irmã ou mãe invejosa? Isso sem esquecer dos apaixonados que ficam longe um do outro até se encontrarem um dia e casarem. Uau!!!
Outra aliada de causar suspiro é a poesia. Eu admito que os poetas famosos eram pessoas inteligentes, mas é inegável que pegaram carona no amor romântico. Eles adoravam transar mentalmente com as metáforas. Eles tinham um sério problema de viver na impossibilidade de ter alguém ou na possibilidade de perder a pessoa ideal.
Nós fazemos orgias com os devaneios desses caras até hoje. Sério. Isso é algo assustador. Você já ouviu algum poeta ser mais famoso por versos sobre a fome e a desiguldade social do que pelo amor? Nem eu.
Eu acredito que nem é necessário aprofundar-se sobre as bandas ou cantores de hoje. O amor impera nas melodias e leva as músicas ao sucesso de vendas. Se isto fosse papo furado, porque eu estaria ouvindo agora Pink Floyd, uma banda que nem mais existe versando:
“Como eu queria,
Como eu queria que que você estivesse aqui,
Somos duas almas perdidas, nadando num aquário,
Ano após ano...”
Para encerrar toda essa “viagem” deixo uma dica de tratamento. Ame ou odeie amar o amor. Mas, nunca, em hipótese alguma deixe de saborea-lo. Abraços e até a próxima.